terça-feira, 2 de junho de 2009

Comunicadores discutem responsabilidade social

A seguir, relato do jornalista Henrique Andrade Camargo, publicado no site do Mercado Ético hoje, 2/6

Fotos: Leticia Freire
Quem trabalha com publicidade, propaganda e marketing está acostumado a criar e trabalhar os desejos de consumo. Mas o que acontece quando o "ter" começa a ser questionado por esses profissionais? E quando a necessidade de valorização do "ser"ocupa a cabeça criativa dessas pessoas? Com essa provocação teve início na manhã de hoje (2/6), em São Paulo, o Unomarketing - Comunicação Consciente, um evento que tem o objetivo de debater a sustentabilidade e o compromisso social das organizações ligadas à mídia.

Criar com responsabilidade. Estar atento no impacto da mensagem dentro de uma cadeia de valor e produção. Essa é uma preocupação crescente para os profissionais da mídia, que entendem sua co-responsabilidade na construção de um mundo mais sustentável. Ainda assim, trabalhar a questão de gerar a necessidade do "ter" não é uma tarefa fácil.

Para Christina Carvalho Pinto, publicitária, presidente da Full Jazz e líder da plataforma Mercado Ético, essa mudança de paradigma é difícil, principalmente na área publicitária. O segredo, segundo ela, é definir uma posição responsável no mercado e, assim, identificar as marcas com as quais se quer trabalhar. "Se você questiona seu papel no mundo e se pergunta o porque de muita coisa, vai encontrar a resposta dentro de você mesmo, ou seja, nós precisamos trabalhar por uma mídia mais ética e construtiva", diz.

Christina participou do primeiro painel do dia, ao lado do colombiano Jayme Jaramillo, indicado ao Prêmio Nobel da Paz; Eraldo Carneiro, gerente de planejamento e gestão de comunicação da Petrobras; e Albert Alcouloumbre Junior, diretor de planejamento e projetos sociais da Rede Globo. O tema proposto foi "Além da redação: estou comprometido com a minha responsabilidade social?".

Segundo a publicitária, muitas agências têm dificuldade em entender que criatividade demanda responsabilidade. "Muitas vezes, para ganhar a piada, perde-se o respeito pelo outro. Isso não faz sentido. Entendo criatividade como a abertura de novas visões. Procuro pensar no efeito que minha mensagem pode causar na audiência. Todo processo criativo deve ser usado com responsabilidade. Trata-se acima de tudo de relações de respeito e coerência com as diversas pessoas que direta ou indiretamente receberão a mensagem", completa.

Alcouloumbre, diretor de planejamento e projetos sociais da Rede Globo, concorda com Christina e acrescenta que essa tendência de questionar os processos produtivos e a veracidade da informação é, de certa parte, uma das conseqüências da atual crise econômica. "As pessoas estão acuadas diante dos fatos e partir daí elas passam a se questionar cada vez mais seus próprios valores éticos, humanísticos e espirituais", afirma. Para ele isso é positivo, na medida que gera transformação dentro das estruturas sociais. Mas segundo Alcouloumbre, o homem tem uma tendência a se acomodar depois do susto e continuar atuando da mesma forma. "Fico em dúvida se, assim que a crise passar, não voltaremos ao mesmo patamar comportamental de antes", questiona.

Já Carneiro, gerente de planejamento e gestão de comunicação da Petrobras, diz-se otimista com o cenário mundial. Para ele, a comunicação começa a apoiar os processos educacionais do país. "A comunicação é a melhor forma de educação" afirma. "Podemos usar isso de forma positiva e conseqüente, promover a formação e a mudança cultural dentro do público de uma empresa", acredita.

A importância da responsabilidade social é reforçada com o exemplo de Jaramillo, que desenvolve projetos voltados para crianças que vivem na rua na Colômbia. Indicado ao Nobel da Paz, Papa Jaime, como é conhecido, afirma que conectar mente e coração é a forma de nos tornarmos seres humanos melhores e aprimorar nossa ação no mundo. "Vivemos num mundo difícil, as pessoas se falam pouco e a comunicação é um grande problema mas também uma solução" pontua. "A força está em entender que sempre podemos fazer alguma coisa para fazer a diferença. Precisamos nos conectar com nossos sonhos e valores", concluiu.

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